Os 80 anos de Eli Camargo
Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado
A grande cantora Eli Camargo é hoje patrimônio vivo do folclore musical de Goiás, ao interpretar, com alma e nostalgia impares, a sensibilidade vilaboense e goiana de uma maneira geral. Sua história de vida, toda ela dedicada à cultura goiana e brasileira, é digna de reverência e admiração. É uma pena que o Brasil seja um país um país sem memória e que não tributa respeito aos seus autênticos valores culturais.
Nascida na Cidade de Goiás em 12 de fevereiro de 1930, Eli Camargo herdou de seu pai, o maestro Joaquim Edson de Camargo, o talento musical e o gosto pelas coisas e sentimentos ligados à goianidade e ao popular. Desde cedo, Eli Camargo teve aptidão pelas coisas, falares e cantares do povo de Goiás, elementos da cultura popular.
Foi, juntamente com Santinha Marques (Uyara de Goyaz) e Lourdinha Maia, os nomes mais destacados da música popular em Goiás antes da mudança da capital e nos primeiros dias de Goiânia, quando cantaram na ZYG-3 – Rádio Clube de Goiânia, unindo-se ao talento de Didi Costa como Radialista e Titinha Veiga também como cantora, embora em gênero mais clássico.
No ano de 1960, quando Brasília surgia no Planalto, Eli Camargo já cantava em Goiânia com o “Trio Guairá”, sucesso na Rádio Brasil Central, programa que era retransmitido na nova capital do país, para gosto e apreciação dos candangos e goianos ali residentes.
Professora e farmacêutica, Eli Camargo deixou tudo para cantar a alma de Goiás. Em 1962, transferiu residência para São Paulo onde lançou o seu primeiro disco “Canções de minha terra”.
Lançou também o 1° “Danças Folclóricas brasileiras” em que caminha pelo jeito brejeiro brasileiro em estilos musicais de nove estados. Todos os seus discos fazem uma viagem cultural pelos cantares do Brasil.
Nossa admirável cantora é, ao lado de Inesita Barroso, os maiores ícones da música folclórica do Brasil. Duas grandes mulheres, dois grandes valores.
Gravou "Caninha verde", do folclore paulista, no LP "Canções da minha terra", pela Chantecler, ainda em 62, e também gravou o arrasta-pé "Santo Antônio tenha dó", de Maria do Rosário Veiga Torres, e o samba caipira "Marido pelado", de Teddy Vieira e Almayara, músicas jocosas e bem ao estilo caipira do Brasil, que fizeram grande sucesso, principalmente no interior de São Paulo.
No ano de 1963, Eli Camargo gravou a valsa "Tempos passados", de Zica Bergami, e a moda de viola "Lá na venda, lá na vendinha", de Lourdes Maia. Em 1964, gravou o LP "Folclore do Brasil", em que interpretou cantos de trabalho nas plantações de arroz, de São João da Boa Vista, e um canto de ferreiro, de Botucatu.
Seu trabalho como pesquisadora do folclore do Brasil merece todo o reconhecimento da gente brasileira. Já no ano de 1967, participou com grande sucesso da Semana Cornélio Pires realizada na cidade paulista de Tietê. Em 1968, gravou o LP "Canção da guitarra", com músicas de Marcelo Tupinambá. Teve discos lançados na África do Sul, Alemanha, Portugal e Itália, em reconhecimento internacional pela sua carreira.
Sobre ela escreveu o professor Rossini Tavares de Lima em 1968:
Ely Camargo é hoje a melhor interprete erudita e a mais entusiasta divulgadora de nosso folc – musica. Este é no meu parecer o disco de ouro de Ely, no gênero que abraçou e que lhe tem dado mais desilusões do que alegrias em virtude da incompreensão de muitos divulgadores no radio ou na televisão. De uma coisa, entretanto já deve estar certa, para prosseguir, com mais animo, no trabalho: os seus discos de interpretação de folclore ficarão na historia da cultura do Brasil, ao lado de alguns raros, executados dia e noite pelo país afora, em nossos dias.
Retornando a Goiás, Eli Camargo continua como ativa cantora, merecendo o respeito e a admiração de todos, lançando CDs em que, enternecidamente, evoca a sensibilidade goiana, ao imortalizar musicas como “Canção do Araguaia”, “Noites goianas”, “Lembranças de Goiás”, “Anita” e “Aruanã” e o tango “Saudade”, composição de seu pai, o maestro e professor Joaquim Edson de Camargo, notável mestre da Escola Normal Oficial de Goyaz.
Eli Camargo, alma sonora de Goiás. Oito décadas de uma vida inspirada pela sensibilidade, pelo amor e apego ao folclore e ao jeito telúrico da alma sertaneja.
Eli Camargo foi integrante do Conselho da Secretaria Municipal de Cultura de Goiânia. Na Rádio da Universidade Federal de Goiás apresentou os programas "Brasil de canto a canto", "Eli Camargo convida" e "Alma brasileira".
No ano de 1978 lançou o LP "Minha terra", pela Chantecler/Alvorada no qual interpreta entre outras, "História triste de uma praieira", "Minha terra" e "Vida marvada". O disco foi muito elogiado pelo crítico José Ramos Tinhorão, grande crítico nacional.
Os principais sucessos do folclore e da música popular brasileira, cantados por Eli Camargo foram, dentre centenas de outras:
• Santo Antônio Tenha Dó (Maria do Rosário Veiga Torres)
• Marido Pealado (Teddy Vieira / Almayara)
• Canções do Araguaya (Joaquim Édison Camargo / Francisca Filemon Mascarenhas)
• Jurupanã (Osvaldo de Souza)
• Lá na Venda Lá na Vendinha (Lourdes Maia)
• Sabiá (Hekel Tavares / Juraci Camargo)
• Ó Minha Caninha Verde (Tradicional / Rec. Norma Elia)
• Vovó Sabina (J. Cavalcanti)
• Gavião Penerô (Osvaldo de Souza)
• Violeiro do Luar (Paraguassu)
• História Triste de Uma Praieira (Jangadeiro) (Stefânia de Macedo / Adelmar Tavares)
• Protesto (Tradicional / Rec. Osvaldo de Souza)
• Meia Canha (Tradicional / Adpt. Ernâni Braga)
• Preta Zulmira (João de Deus)
• Pingo D'água (Osvaldo de Souza)
• A Choça do Monte (Catulo da Paixão Cearense)
• Luar do Sertão (Catulo da Paixão Cearense)
• Tempos Passados (Zica Bergami)
• Noites Goianas (Joaquim Bonifácio / Joaquim Santana)
• Já Fui Carreiro (Elman Alencastro Veiga)
• Você Está Ficando Diferente (João Ribeiro / Iamerô)
• Danado de Bão (Edilberto Santana)
• Trovinhas (Joaquim Édison Camargo)
• Pregões de Goiás (Márcio Alencastro Veiga / Geraldo Cesário de Jesus)
• Saudade (Joaquim Édison Camargo)
• Anita (Castelo Neto / J. Pirahy)
• Ai Moreninho (Lourdinha Maia)
• Nossa Senhora da Guia (Waldomiro Bariani Ortêncio)
• Lembrança de Goiás (Joaquim Édison Camargo / Castelo Neto)
• Balada Goiana (Manoel Amorim / Félix de Souza)
• Veneno (João Ribeiro / Iamerô)
• Aruanã (Tradicional / Rec. Ely Camargo) Música tradicional goiana
• Meu Ciúme (João Ribeiro / Iamerô)
• Lampião de Gas (Zica Bergami)
• Boi Barroso (Tradicional)
• Flor de São João (Angelino de Oliveira / Paulo Barreiros)
• Upa-upa (A Canção do Trolinho) (Ary Barroso)
• Tristeza do Jeca (Angelino de Oliveira)
• Noites Gaúchas (Paraguassu)
• Viola Cantadera (Marcelo Tupinambá)
• Casinha Pequenina (Tradicional)
Atualmente, Eli Camargo reside em Goiânia e apresenta-se em eventos oficiais e culturais, destacando o seu grande devotamento ao folclore e ao povo de Goiás.
Parabéns Eli Camargo, cantora do meu coração!
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