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quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Exumação


 
Bento Alves Araújo Jayme Fleury Curado



Errare humanum est. Na célebre frase de Sêneca, filósofo Romano e destacado poeta encerra-se um mundo de divagações de ordem psicológica, quando o erro assume conotações diversas e hoje apresenta verificação divergente do passado, geralmente marcado pelo excesso de preconceito, numa época em que a língua diferenciava as classes sociais e marcava territórios; língua de gente fina, traquejada e plena de glamour, afetação e língua de gentinha, ralé, fubá, maloca, zé povinho e mané, como se diria hoje. E depois ainda dizem que não há preconceitos, tá bom?

Temos agora o nosso jeito de falar, como destacou Lourenço Diaféria, o “noço portugueis ruim”. Ruim é pouco, é apelido. Tá com dó de ruindade? A pobre Língua “que Camões chorou no exílio, última flor do Lácio, inculta e bela” está sendo apunhalada em cada esquina, em cada canto de rua, em cada escola, em cada coração. Pervertida, ultrajada, prostituída, diminuída. Uma perdidinha sapeca, envolvente, graciosa, Gabriela, Tieta e Dona Flor do Vernáculo. Velhinha de Taubaté da Gramática. Hilda Furacão da semântica. Engraçadinha, mas ordinária, como diria Nelson Rodrigues.

Língua Portuguesa nossa, que perdeu seu lugar na galeria das mais belas e cultuadas, tão lindamente observada numa frase de Alencar, num escrito de Machado de Assis, num verso de Castro Alves e agora tão diminuída pelo hodierno excesso de tecnologia e na crescente onda de e-mails, numa linguagem cifrada, no frio laconismo dos telegramas.

Já que o negócio é errar, vamos errando. Herrar não é umano? Para que preconceitos em relação à língua, se todos nos entendemos enfim? O negócio é usar a língua certa, na hora certa, no lugar certo e melhor ainda, com a pessoa certa. Entenderam a comparação?

A linguagem popular a cada dia se afasta da norma padrão, com sua dialetologia, os vícios de linguagem, os modismos lingüísticos, os rusticismos, caipirismos, regionalismos, provincianismos, barbarismos, solecismos, preciosismos, jargões, palavrões, clichês, ditados populares, fraseologias, provérbios, adágios, anexins, rifões, prolóquios, parêmias, sentenças, máximas, axiomas, aforismos, apotegmas, refrões, bordões, e outras parafernálias lingüísticas. É pouco ou quer mais?

São sintomas de mudanças profundas numa sociedade de valores deturpados. De quem é a culpa? Ninguém pode crucificar o outro. Num país que vislumbra o futuro e que se ergue para divisar o terceiro milênio ainda de pé no chão não pode, infelizmente, alcançar o ideal.

Nunca se teve tanto livro e nunca se leu tão pouco. Nunca houve tantos recursos e nunca se passou tanta fome. Que país de paradoxos! Mas mesmo sendo erro, é interessante pelas analogias feitas.

Já assuntaram como utilizamos o nosso corpo como modelo? Façamos agora uma exumação dessa linguagem que tanto usamos e estripamos corpos e mais corpos, diariamente e nem nos damos conta dos cadáveres que vamos lançando a esmo, pela língua assassina que temos. Imaginemos agora um corpo prestes a ser retalhado.

É mesmo um fato de ARREPIAR OS CABELOS. Não adianta ARREPIAR que isso vai ser dito, já é hora de parar de viver dando CABEÇADA por aí em tolas indagações, CABEÇA DE VENTO, CABEÇA DE BAGRE. Deixa de ser CABEÇUDO, tudo nesse mundo tem explicação, mesmo para CABEÇAS DURAS como a sua; caro leitor desavisado.

Calma que tudo o que vai aqui é de graça. E desse jeito até INJEÇÃO NA TESTA é válido, principalmente para quem PENTEIA O CABELO PRA TRAZ PARA NÃO REPARTIR. Tem gente que possui fama de UNHA DE FOME, de MÃO DE VACA e isso é comum para nós que, hoje, passamos no DITO CUJO DA COBRA. Mesmo sendo um MIOLO MOLE, essa informação vai estar NO PAPO.

Não que eu seja um PAPUDO, sei lá, confesso que sei PEITAR (não confunde, tá bom, é peitar mesmo, com t) as situações e mesmo METENDO O NARIZ onde não sou chamado já levei muito TAPA NA VENTA.

ORELHUDO, tá prestando atenção? FICA DE OLHO, cuidado para não ENTRAR NUM OUVIDO E SAIR NO OUTRO. Tenha JOGO DE CINTURA e não seja CARNE DE PESCOÇO como tanta gente por aí. Vai levando NA BARRIGA essa situação difícil.

O velho adágio já diz que QUEM NÃO AJOELHA, NÃO REZA. Sossega, mas ABRE O OLHO e não vai DAR COM A LÍNGUA NOS DENTES. BOQUINHA DE SIRI nesse nosso segredo, tá seu BOCUDO? Se bancar o DEDO DURO eu maceto sua mão no porrete.

Quando eu falo, sou violento e DESÇO O BRAÇO sem dó. TENHO SANGUE NAS VEIAS, não sou SANGUE DE BARATA como tantos por aí (perdoe-me se te falo assim). Mas, às vezes, concordo que fazer as coisas de SANGUE FRIO é a melhor opção. Entretanto, quando vejo já BOTEI A BOCA NO TROMBONE, armei o maior BATE BOCA, igual à gentinha do começo dessa história, aquele povinho fubá também acho que sou, sei lá.

Essa minha LÍNGUA DE TRAPO já deu muito que falar, LÍNGUA SOLTA que herdei de minha avó, uma LINGUARUDA de primeira, velhinha da BOCA IMUNDA que sabia sorrir e ser bobagenta, mas, à moda de Che Guevara, sem perder “la ternura”, porém, ao menor deslize, mandava a gente PEIDAR FUMAÇA, costume lá dos seus falares, ainda mais usando a língua de traz pra frente, mania de todo e qualquer bom Jayme, chamava a gente de ATUPADEF.

Coisa do meu detesto é OLHO GRANDE, gente que põe OLHO GORDO na vida da gente e que não LARGA DO PÉ. Ojeriza tenho muita, de quem PASSA A PERNA NOS OUTROS. Cambada imunda! Gosto mesmo é de BATER PERNA, bestar na rua. Há muito, mãe dizia que COMI PÉ DE CACHORRO, será?

Andar, ruar, medir rua, bestar são meus verbos prediletos.

Pelo sim, pelo não, é melhor BOTAR AS BARBAS DE MOLHO. CARA LAMBIDA nunca foi adiante.

Meça. Assunta tanto PÉ DE TODDY que NÃO TEM UM COURO PARA CAIR MORTO querendo PASSAR O PÉ na gente. METER A MÃO no alheio. Vou é logo dar um PÉ DE RODO nessa corja. Cuidado e caldo de galinha nunca fizeram mal, pois o seguro morreu de velho e o prudente foi no velório e depois, de repente, um deles GUARDA A FACA NO BUCHO da gente e vamos ESTICAR AS CANELAS rumo à terra dos PÉS JUNTOS.

Já passei essa fase de DOR DE COTOVELO. O negócio é seguir. A fila anda. Também FALO PELOS COTOVELOS. Já percebeu? Ideal é TER PULSO para tocar a vida. Não sou nenhum SACO DE TRIPA e nem descendente da ilustre e tradicional família MONTE... DE BOSTA! Sou CARUDO e acho que essa palavra aí todo mundo diz, mesmo lá no CALCANHAR DOS JUDAS, no guardado, no segredo então, pode rir, seu CARA LISA!

Já tenho o COURO GROSSO pode falar, passa logo um CARÃO. Já estou BENZIDO COM A MÃO CANHOTA mesmo, o que vier é lucro. Tudo nesse mundo não vale BOSTA NENHUMA e tem gente que não quer ser POUCA BOSTA. Isso é nojento, perigoso ESTRIPAR O MICO e CHAMAR O JUCA aqui.

Quem já não chamou ou pensou em chamar o outro de CARA DE BOSTA, de CARA DE MERDA ou CARA DE BUNDA? Tem ainda outros estereótipos para a CARA que não devo dizer aqui, em que fazem analogia da CARA com aquela região ONDE O SOL NÃO BATE.

Confesse, você já não disse isso? Não pode haver hipocrisia nos nossos dizeres. Sei que às vezes sou um PÉ NO SACO, mas vai tendo paciência comigo que você ganha o céu... DA BOCA DA ONÇA!

Tá querendo falar alguma coisa? ABRE O BICO. Enfrento tudo DE CABEÇA ERGUIDA, pois QUEM ABAIXA MUITO MOSTRA A BUNDA, tá pensando o quê? Só TOMEI UM COURO foi de minha mãe, o último, e não temo nada de nada e nem um TAPA NA VENTA que você esteja querendo me dar!

Pessoa que só fica COÇANDO O SACO não é de nada, só ARROTA vantagem, comigo não tem vez, mas aqui não, sou OSSO DURO DE ROER, não perco nenhuma chance, pois antes UM PEITO NA MÃO, QUE DOIS NO SUTIÃ!

Vou ser uma PEDRA NO SEU SAPATO e não duvida que pode haver um ARRANCA RABO. Tô com o OVO VIRADO e vendo a VÓ POR UMA GRETA. ACORDA que a sua batata tá assando. Chega de BATER PAPO, aproveita a BOCADA da vida e a BOCA LIVRE de tanta festa, vai ser feliz. BOTA A CABEÇA NO LUGAR, ajeita as coisas, curte!

Cansei de BOTAR O DEDO NA FERIDA e FICAR CHIANDO.

Não que fosse a minha intenção ficar PISANDO NOS CALOS de ninguém. Não é bem isso não, porque assim acabaria PISANDO NA BOLA. E com certeza também iria QUEBRAR A CARA.

Espreita, você nessa vida, tendo saúde, TÁ COM TUDO NA MÃO. Para tirar o PÉ DA LAMA, com alguma dívida é fácil negociar. Qualquer PÉ RAPADO consegue, por que você não? Faz no guardado o seu PÉ DE MEIA.

O certo é SUAR A CAMISA de qualquer jeito, na malhação ou no trabalho. Para vencer as dificuldades é preciso fazer DAS TRIPAS, CORAÇÃO. Nada de ficar o tempo inteiro DE PAPO PRO AR e FAZER VISTAS GROSSAS para o difícil do mundo.

A vida é pra se GANHAR NO GRITO E NA RAÇA. É preciso MANDAR VER e mesmo que tudo não seja FLOR QUE SE CHEIRE, não podemos recuar, nem ROER A CORDA. Tudo isso são os OSSOS DO OFÍCIO do bem viver.

Confesse, você tem que DAR MÃO Á PALMATÓRIA. Viver é muito perigoso como disse o velho Guimarães Rosa.

Pare de DAR MURRO EM PONTA DE FACA. DÊ O BRAÇO A TORCER. Aceite os errados e os certos e dê uma de JÃOZINHO SEM BRAÇO para poder suportar os TEMPOS BICUDOS. A vida, apesar dos pesares, é algo de ENCHER OS OLHOS. Encha-os ao invés de ENCHER A CARA.

Você tem A FACA E O QUEIJO NA MÃO. Adoce o tempo por mais amargo que seja. Ponha a MÃO NA MASSA. Construa amanhãs e sempres. Pense que você nasceu com o DITO CUJO VIRADO PARA LUA e mesmo que não pareça, há nisso poesia.

Língua que retalha, exumando nosso corpo, viram? É PINTA BRABA. E a gente vive a toda hora ENGOLINDO SAPO. E também como ele PULA CONFORME A NECESSIDADE; vamos COMENDO PELAS BEIRADAS que pobre tem BUCHO DE SUCURI, para agüentar muita coisa.

Como o usamos dessa maneira, mutilando, cortando pedacinho a pedacinho, parte por parte, Jack, o estripador da linguagem, pois não? Isso é fragmento dos nossos guardados da língua, parte de nosso depositário de riquezas ou pobrezas como queiram uns e outros, (uns gostam do olho, outros da remela, já viram?), pois a língua está literalmente na BOCA DO POVO.

PEGA LEVE agora. Chega de FALAR ABOBRINHA, LA-RA-LÁ CAIXINHA DE FÓSFORO, ETC. Antes que me exumem vou TIRAR O CORPO FORA, pois, Deus me livre, a LÍNGUA NÃO TEM OSSO, MAS PODE COMPROMETER O PESCOÇO. Fui! Vazei.

É nois.

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